segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Carta ao Pai Natal

(...parece que já não é fora de época: eu quero mesmo receber esta prenda e tenho sido uma boa menina durante todo o ano)
Caríssimo Pai Natal,

Antes de mais quero dizer-te que não acredito em ti...mas se existires, por favor, não deixes de me responder. Acho que nunca acreditei em ti... Pelo menos nunca sofri a suposta grave desilusão que é deixar de acreditar no Pai Natal ou talvez tenha sofrido e dissimulado esses sentimentos...

Escrevo-te porque a minha profunda convicção nas minhas descrenças foi abalada por uma descrença geral maior que questiona todas essas descrenças. Por isso peço-te, neste Natal, quero receber as minhas descrenças primárias, sozinhas, isoladas, a valerem por elas próprias, convictas, orgulhosas de si, independentes. Não tem de ser nada novo, podes ser ecológico e fazer uma reciclagem das minhas convicções, emoções. Peço-te que reponhas as minhas descrenças bem fundamentadas e organizadinhas. Obrigada.

Com os melhores cumprimentos

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A outra paixão

Essa história das paixões deixa-me desconfiada…A minha outra paixão…, porque a primeira é só minha e recuso-me a expô-la aqui, só a premiá-la. A minha outra paixão é ser do contra, dizer mal e torcer o nariz a coisas fofinhas e lamechas, fazer listas de defeitos, relembrar maleitas e coisas que correram mal como o jantar de família em que a minha tia deixou queimar o arroz de cabidela que se quer bem malandrinho, a minha avó bebeu ginjinha a mais e disse bem alto o que toda a gente sabia e de que ninguém falava e 2 primos afastados foram encontrados no quarto dos fundos em comportamentos menos próprios.

Não sei quando comecei a apurar as minhas capacidades analítico pessimistas… na infância enquanto os meus amigos gozavam com o “gordo” ou com a “cenoura” eu apontava-lhe as falhas morais e por vezes, quando estava aborrecida, falava-lhes da inexistência do pai-natal ou explicava-lhes o processo de decomposição a que o corpo dos seus parentes falecidos estava sujeito. Consideravam-me arrogante e empertigada e assim eu melhorava esta minha aptidão, tendo publicado aos 14 anos um pequeno jornal digital chamado “Escárnio e mal-dizer” onde escrevia sobre os namoricos da escola, os tiques dos professores e a comida intragável do refeitório. Durou pouco tempo porque cedo dei conta dos inconvenientes da internet, me aborreci com os comentários pouco criativos que recebia e alarguei os assuntos de análise.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O exorcismo moderno

Que existem demónios por ai, espíritos tenebrosos e criaturas enviadas por Satanás poucos podem não comprovar.

Muitas pessoas poderão ser reticentes em dizer que tais seres não circulam de quando em quando por ambientes do quotidiano ou mesmo assumir a forma de pessoas conhecidas... eu própria sinto os meus humores alterados sempre que leio um anúncio a promover o exorcismo. Deste ponto de vista o exorcismo pode ser caracterizado como um negócio sustentável que circula por ai (tal como uma alma penada) e a sustentabilidade é notável ou caso contrário, não seria referida nos preâmbulos de toda a legislação de âmbito nacional e europeu, produzida nos últimos anos.

Este post pretende reflectir sobre a condição do exorcismo na sociedade moderna. A água benta tem os dias contados, os tradicionais fantasmas sentem-se assustados com o intenso tráfego aéreo do nosso mundo global. Os exorcistas modernos já não empunham crucifixos, são geeks salvadores que activam anti-vírus perante fluxos de bactérias informáticas. Claro que existem charlatões que recorrem a formatações de disco. Por isso tenham cuidado!