segunda-feira, 30 de julho de 2012

Retrato III: a poetisa que morreu idosa

Houve um momento da sua vida em que escrevia muito: analisava, revia e guardava todos os seus sentimentos num papel, como se não existisse espaço dentro de si para os conter. Mais tarde deixou de o fazer mas não sabe explicar porquê. Talvez a sua paixão tenha diminuído. Ou terá crescido e tudo passou a caber dentro de si, mais ou menos catalogado, mais ou menos arrumado.

No entanto, num momento da sua vida ela escrevia muito, poesia, todos os dias. Versos próprios das adolescências tardias e de vidas adultas lânguidas: textos idealistas, poemas porno soft, ideias amarguradas em fermentação.

Depois leu, algures, que os poetas morrem cedo. E mesmo achando poética a ideia de morte prematura deixou de escrever, por esta ou por qualquer outra razão.