quarta-feira, 25 de novembro de 2009

1 café em chávena escaldada


Ela acordou, preparou o café, fez torradas, escovou o cabelo e realizou todas as outras tarefas matinais rotineiras. Ele ficou mais 15 minutos na cama. Eles cruzaram-se na cozinha, no corredor. Na casa de banho ela saiu, ele entrou. No elevador saíram de mão dada.

Era confortável estar assim. Era um conforto tão simples de alcançar, bastava tocar-lhe ao de leve e ele, simplesmente, correspondia.

Mas seria uma coisa mecânica? Tornara-se um mero hábito, uma rotina? Relembrou os tempos em que repetidamente imaginava aquelas mãos a conhecerem-na. As mãos de um homem mais imaginado do que conhecido. Sentia a mão abafada, suada, queria que os seus dedos escorregassem por entre aqueles dedos fortes, mais conhecidos e menos imaginados. Isso não aconteceu, então disse:
- Preciso de tomar outro café!

Retirou a mão do desconforto que tinha sido conforto e então sentiu outro desconforto, novo, pela perda de calor, pelo vazio… A consciência desse desamparo tornou o vazio maior. Pediu bem alto:
- Numa chávena escaldada, por favor!

A mão recebeu a chávena bem quente, por inteiro. O café foi assimilado, outro conforto a descer o esófago até ao estômago. Esqueceu as dúvidas, as angustias.

A mão dada passou a ser a forma mais prática de não se perderem na rapidez da rotina até sossegarem no autocarro repleto.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fora de jogo 3/3 - Solução b

E mais ainda! Na tentativa de promover um diálogo que resolva o problema do futebol como paixão incerta e os trágicos danos psicológicos da época futebolística em pessoas com consciência das suas praticamente inexistentes qualificações ao nível das ciências do futebol proponho alteração do espectáculo futebol actual.

Revisão do esquema actual com base em 3 pressupostos:

Jogadores de futebol = ídolo para a sociedade - Saber jogar futebol já não é suficiente ou porque é que acham que os salários dos futebolistas são acima da média?
A fórmula de famosos programas de televisão que têm por objectivo encontrar um cantor, um entertainer, um dançarino podem ser adaptadas para a selecção da Selecção.. Numa primeira fase, um júri com formação multidisciplinar (técnico de moda e gestão de imagem, de comunicação social, de desporto, entre outros) apuraria os jovens futebolistas com o perfil mais adequados para Deus da bola.

Público como treinador de bancada – Importa não desperdiçar esta capacidade praticamente inata do público e envolvê-lo directamente na formação do plantel. Referendos nacionais, votação on line ou telefónica seriam meios possíveis de concretização desta ideia.

Resultado do jogo como êxtase e culminar de uma paixão - O esquema de visualização exaustiva de 90 minutos de jogo seria abandonado. As imagens de jogo seriam intercaladas com imagens de apresentação de jogadores, os melhores cromos eliminados, outros talentos dos jogadores tais como cantar, dançar e expor opiniões sobre assuntos da actualidade, e claro, apresentação de anúncios. No canto superior direito do écran o resultado do jogo estaria sempre visível.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Fora de jogo 2/3 - Solução a

Na tentativa de promover um diálogo que resolva o problema do futebol como falsa paixão e os nefastos efeitos psicológicos da época futebolística em pessoas com consciência das suas baixas qualificações ao nível das ciências do futebol proponho:

Aulas de cultura e técnica futebolística

Na educação dos mais novos basta somar ao ensino de inglês e de novas tecnologias as aulas de futebol, teóricas e práticas. Talvez possa ser apoiada  pelo estado, a entrega de uma bola de futebol para cada aluno do ensino obrigatório. A bola seria ainda uma representação da esfera terrestre podendo ser utilizada nas aulas de geografia.

Para os adultos existiria uma outra segunda oportunidade. Todas as crianças apoiaram um clube de futebol, seja porque gostavam de uma determinada cor ou porque tinham um tio que lhes oferecia equipamento completo dessa equipa todos os natais. É uma questão de reabilitação...

domingo, 15 de novembro de 2009

Fora de jogo 1/3 - O problema



Mesmo alguém com uma grave inaptidão para falar de futebol e vibrar com o espectáculo rei adquire conhecimentos “futebolísticos” relativos à selecção do país onde reside. De dois em dois anos é praticamente impossível desconhecer os jogadores, as suas vidas, os prémios e as mais famosas cusquices que os envolvem. A popularidade dos jogadores pode ser medida pelo uso do tibial anterior, gastrocnémio medial e lateral, sóleo,vasto medial e vasto lateral, não para jogar, mas para promover relógios, produtos bancários, marcas de roupa, champô ou lâminas de barbear.

O que eu questiono é a abrangência da paixão futebolística…
Quantos dos olhares postos no relvado realmente apreciam o espectáculo do futebol?
Qual o conhecimento real da técnica aliada à força para fintar, passar, rematar, o jogo aéreo, a equipa?
Qual o esforço necessário para tornar aqueles onze homens uma equipa?
Quais as condições básicas para uma coordenação perfeita dos tais músculos que também vendem bebidas açucaradas nas horas vagas?

Glossário: (isto é serviço público!!!)
tibial anterior, gastrocnémio medial e lateral, sóleo,vasto medial e vasto lateral - músculos dos membros inferiores.