Ela acordou, preparou o café, fez torradas, escovou o cabelo e realizou todas as outras tarefas matinais rotineiras. Ele ficou mais 15 minutos na cama. Eles cruzaram-se na cozinha, no corredor. Na casa de banho ela saiu, ele entrou. No elevador saíram de mão dada.
Era confortável estar assim. Era um conforto tão simples de alcançar, bastava tocar-lhe ao de leve e ele, simplesmente, correspondia.
Mas seria uma coisa mecânica? Tornara-se um mero hábito, uma rotina? Relembrou os tempos em que repetidamente imaginava aquelas mãos a conhecerem-na. As mãos de um homem mais imaginado do que conhecido. Sentia a mão abafada, suada, queria que os seus dedos escorregassem por entre aqueles dedos fortes, mais conhecidos e menos imaginados. Isso não aconteceu, então disse:
- Preciso de tomar outro café!
Retirou a mão do desconforto que tinha sido conforto e então sentiu outro desconforto, novo, pela perda de calor, pelo vazio… A consciência desse desamparo tornou o vazio maior. Pediu bem alto:
- Numa chávena escaldada, por favor!
A mão recebeu a chávena bem quente, por inteiro. O café foi assimilado, outro conforto a descer o esófago até ao estômago. Esqueceu as dúvidas, as angustias.
A mão dada passou a ser a forma mais prática de não se perderem na rapidez da rotina até sossegarem no autocarro repleto.