quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Em 2010 é que vai ser!

Detesto as passagens de ano, detesto os dias que passam mais devagar porque são diferentes e estão congestionados com mensagens banais... Detesto o fogo-de-artifício que se estende por dezenas de minutos e detesto passas engolidas por pessoas que não as apreciam.

Gosto de acreditar que num segundo as coisas podem mudar e aprecio a divisão temporal ocidental. Acredito que 2010 ser um óptimo ano, quase melhor do que 2011 e apenas ligeiramente pior do que 1980. Para este novo ano não posso deixar de desejar pequenas coisas porque as grandes já foram todas desejadas e acredito que as insatisfações pessoais que ruminam mas não aniquilam podem ser combatidas assim:

1- Parques de estacionamento dos centros comerciais, dos hipermercados e afins com um piso perfeitamente horizontal - não há nada mais detestável do que ter de travar o carro de compras com um dos pés enquanto se tenta transferir os sacos de compras para o automóvel.

2- Proibição de venda de ramos de flores com bom aspecto a pessoas que as pensem oferecer a quem não as deseja receber. Pesadas multas para as floristas que infrinjam esta norma;

3- Banalização do uso de desodorizante, da escova de dentes, do uso da máquina de lavar roupa;

4- Que os estados febris não sejam considerados um efeito da gripe A mas de uma paixão irremediável com possibilidade de contagio a toda a humanidade;

5- Que os conhecidos bombons de chocolate preto recheado com avelã com o nome traduzido para português de bejo (tradução feita pelos técnicos contratados da marca) passem a oferecer mensagens que façam sentido e escritas em português correcto. (Conheço elementos de casais que devido a más traduções destas mensagens abandonaram o conjugue, despediram-se do emprego e começaram uma nova vida na beira interior. Apenas 2 das 7 pessoas, que conheço nessa situação, estão felizes.)

6-….

Vou deixar esta lista em aberto até Junho de 2010, mês que considero ser o prazo de validade para a elaboração de listas de desejos para 2010. E também porque tenho um extraordinário nº de desejos acumulados nunca pedidos em anos anteriores…sempre fui adepta dos 3 e não 12 desejos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A torradeira amável e a varinha mágica com mau feitio II

Quanto a mim…ela conheceu-me sem livro de instruções, aquilo que era possível conhecer, talvez um pouco menos, na verdade, bastante menos do que aquilo que seria possível conhecer. Sou simples de utilizar mas fiquei sem livro de instruções muito cedo. Entre uma panela de sopa e uma compota de tomate…foi uma história trágica... O livro de instruções estava na bancada de pedra junto ao fogão, tão perto que pegou fogo. Nem eu mesma o li… o que vale é que sou simples de utilizar…

Nesse dia, durante o fogo, com o pânico, com o fumo, cai ao chão. Uma das minhas lâminas saltou e deixou de ser tão afiada como era, o motor foi afectado…

Não quero que me conheçam, só preciso que me utilizem…

Preciso de descansar 20 segundos depois de trabalhar 1 minuto seguido…não sei porquê mas fui descobrindo que se for assim tudo corre bem. Nos primeiros tempos depois de 65 segundos de trabalho intensivo tossia e gemia baixinho, respondia que estava tudo bem, que apenas sentia um ligeiro tremer. Após mais 5 segundos de trabalho parava e desejava nunca mais ver uma batata cozida ansiosa por ser esmigalhada. Nunca contei isto a ninguém, nem a torradeira sabe disso. Só vos conto isto porque vou a caminho do electrão. Sim…o ponto de recolha de electrodomésticos…

A minha torradeira…eu conhecia-a tão bem…sabia qual o seu pão preferido e como devia introduzi-lo. Ela rejubilava quando eu escolhia a intensidade de calor máxima e deixava o pão alourar. Podia parecer que ia queimar mas eu controlava tudo…eu escolhia o tipo de pão, a espessura e dimensão da fatia…tudo para a torradeira expelir a torrada no momento certo. Ela ficava ofegante e eu deleitava-me a barrar manteiga nessa torrada perfeita.

Não vou acrescentar nada, sou uma velha varinha mágica que perdeu o pudor… preciso destas memórias para viver os minutos que me restam até à triagem de materiais.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A torradeira amável e a varinha mágica com mau feitio I

Quando conheci a minha torradeira, conheci também o seu livro de instruções. Aliás… a torradeira fez questão de apresentá-lo. Tal como as pessoas que descrevem de forma exaustiva os seus gostos, as suas características e as suas particularidades a recém-conhecidos assim fez a minha torradeira… Sim, a minha torradeira é desse tipo de torradeiras…

Com uma pequena diferença, que faz toda a diferença, a minha torradeira foi fabricada em série, o seu comportamento foi estudado… tudo aquilo que ela afirmou, corresponde à realidade…porque a minha torradeira não possui qualquer tipo de defeito de fabrico. Testei-a durante um mês e pude comprovar a sua eficiência. Fiquei apaixonada e com direito a torradas espectaculares. Era simplesmente maravilhosa a fazer torradas com pão pré-fatiado que eu comprava 2 vezes por semana.

Passados uns anos fui morar para a província, passei a comprar pão caseiro, aquele pão grande, denso…cujas fatias eram demasiado longas para a minha torradeira preparada para viver em kitchenets práticas e arejadas e não em cozinhas carregadas de memórias e densas como o pão que a preenchia, sem que ela o desejasse, todas as manhãs.

Entretanto a torradeira perdeu um botão, tornou-se resmungona demasiadas vezes, queimava as pontinhas das torradas e já não produzia um torrado uniforme. Consultei o livro de instruções abandonado durante anos no fundo de uma gaveta. Sempre achara que as instruções apresentadas no dia em que a conheci eram suficientes. Li tudo, deparei com coisas que já sabia, descobri funcionalidades que já não trabalhavam…percebi que nunca usufrui na totalidade da minha torradeira. Compreendi ao fim de tantos anos porque é que em certos dias ficava resmungona – parece que gostava que eu lhe limpasse as migalhas, que a incomodavam…