domingo, 13 de dezembro de 2009

A torradeira amável e a varinha mágica com mau feitio I

Quando conheci a minha torradeira, conheci também o seu livro de instruções. Aliás… a torradeira fez questão de apresentá-lo. Tal como as pessoas que descrevem de forma exaustiva os seus gostos, as suas características e as suas particularidades a recém-conhecidos assim fez a minha torradeira… Sim, a minha torradeira é desse tipo de torradeiras…

Com uma pequena diferença, que faz toda a diferença, a minha torradeira foi fabricada em série, o seu comportamento foi estudado… tudo aquilo que ela afirmou, corresponde à realidade…porque a minha torradeira não possui qualquer tipo de defeito de fabrico. Testei-a durante um mês e pude comprovar a sua eficiência. Fiquei apaixonada e com direito a torradas espectaculares. Era simplesmente maravilhosa a fazer torradas com pão pré-fatiado que eu comprava 2 vezes por semana.

Passados uns anos fui morar para a província, passei a comprar pão caseiro, aquele pão grande, denso…cujas fatias eram demasiado longas para a minha torradeira preparada para viver em kitchenets práticas e arejadas e não em cozinhas carregadas de memórias e densas como o pão que a preenchia, sem que ela o desejasse, todas as manhãs.

Entretanto a torradeira perdeu um botão, tornou-se resmungona demasiadas vezes, queimava as pontinhas das torradas e já não produzia um torrado uniforme. Consultei o livro de instruções abandonado durante anos no fundo de uma gaveta. Sempre achara que as instruções apresentadas no dia em que a conheci eram suficientes. Li tudo, deparei com coisas que já sabia, descobri funcionalidades que já não trabalhavam…percebi que nunca usufrui na totalidade da minha torradeira. Compreendi ao fim de tantos anos porque é que em certos dias ficava resmungona – parece que gostava que eu lhe limpasse as migalhas, que a incomodavam…