Retrato II ou vida contraditória coerente

No primeiro instante até gosto de pessoas do contra! São irreverentes, activas, interventivas, não se incomodam com o facto de estarem a remar contra a maré!

Numa conversação é fácil identificar a pessoa do contra, chamemo-lo de Crispim.
Após uma fase de reconhecimento do tema da discussão relativamente curta, Crispim saltita de questão em questão, destroi raciocionios. Crispim é incisivo e mais exaltado na exposição das suas ideias do que qualquer outro elemento do grupo.
Para os amigos com convicções de direita Crispim é de esquerda, para os de esquerda ele é de direita. A politica pode ser-lhe indiferente, assim como a religião, aliás, ele nunca tem uma posição devidamente marcada. Ele ama a discussão, a ginástica mental para a argumentação e contra argumentação.
Crispim pode ser desmotivante. Promove a desconstrução, é irritante e inseguro.
Crispim gosta de comer bem mas num restaurante de especialidades pede um bitoque. Quando lhe falamos das novas tecnologias diz que se perdeu o hábito da socialização, da troca directa de experiências de vida, que perdemos horas, anos em histórias que não são as nossas. Após o jantar de familia Crispim recolhe-se ao escritório onde joga playstation. Para Crispim ser do contra não é apenas um exercício mental, é uma filosofia de vida ou será uma filosofia de contra-vida?