segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A pequena fera apaziguada em época de crise


Normalmente movia-se rapidamente. Não hesitava na escolha do seu discurso, da sua roupa ou das tarefas a delegar num dos seus vários assistentes. Mas por vezes mantinha-se praticamente imóvel, atento a todos os pormenores, calculava as palavras e os efeitos  destas no outro. Modelava o discurso e via um erguer de sobrancelha, uma mão no queixo inquiridora, um olhar atento, um ligeiro abanar vertical da cabeça. Quase sempre assim, quase sempre por esta ordem, desde o primeiro negócio que fez: um saco de berlindes, uma caderneta de cromos? não se lembra e aliás que interessa....

A coisa cresceu, os berlindes passaram a sapatos, a algumas casas, a uma empresa cada vez mais forte e conhecida. Era o primeiro a entrar  e o último a sair. Fazia questão de decidir tudo: as encomendas, os descontos, a iluminação da montra, a máquina de café da recepção, o café para a máquina de café da recepção.

A coisa continuou a crescer até há 4 anos atrás, mais coisa, menos coisa. Hoje continua a ser o primeiro a entrar e decide sobre o café que bebe.



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