terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Alugam-se torres

Houve um tempo em que as raparigas sonhavam que eram princesas em torres e que o seu cavaleiro branco apareceria. Elas estenderiam os seus longos cabelos lisos, pela janela deixando entrar assim o seu amor.

Acontece que estamos no séc. XXI, as princesas saíram das suas torres, e foram conhecer o mundo. Queimaram os corpetes de barba de baleia e optaram por cortes de cabelo mais práticos e desalinhados.

Nos vastos territórios pontuados por torres imaginamos espaços abandonados, repletos de aranhiços e vegetação. Um negócio em potência para a reabilitação e o turismo rural!


Contudo as torres não estão vazias…

Os novos habitantes são versões recentes de princesinhas, ainda mais rápidos a lançarem os longos cabelos a quem passe. Cavaleiros cansados de apanhar chuva, esquecidos das lutas com os dragões, cavaleiros que simplesmente não deixam as suas espadas enferrujar porque as entregam às princesas enquanto lhes dizem:
- Agora podes lutar por mim.

As atitudes das outrora princesas são distintas:

- Algumas pegam nas espadas e combatem com alguém só para demonstrar ao seu amado inseguro que sabem defender territórios;

- Outras pegam nas espadas para expulsar o cavaleiro princesinha da torre;

- Outras, ainda, pousam a espada e chegam a acordo quanto ao preço de aluguer da torre, que tem valor histórico significativo e uma vista fantástica sobre a serra.

4 comentários:

CA disse...

Belo! mais um belo post!:)

Mas parece-me pertinente deixar aqui umas palavras de esperança às princesas (e em defesa da honra dos cavaleiros):
Ainda há cavaleiros por aí à procura de princesas. (Sim, "de" e não "da", porque princesas há muitas...! Bem, talvez não muitas, mas, certamente, bem mais que uma!) No entanto, esses cavaleiros não procuram princesas "torrificadas", antes procuram princesas livres que andem também à luta, à luta contra os seus próprios dragões! Na esperança de que juntos possam lutar contra outros/novos dragões (é mais fácil lutar a dois; aliás, há lutas que só podem ser travadas a dois!), enquanto cada um continua também a lutar contra os seus próprios dragões (mesmo lutar "sozinho" é mais fácil quando se tem apoio moral doutro).

PS: Quer-me parecer que as "princesas torrificadas" e os "cavaleiros princesinhas" são mais do tipo de comprar, do que de arrendar uma torre.

Beijos,
C.

mc disse...

Olá C.!
Obrigada pelas tuas palavras.

Concordo contigo. Com esperança e equilíbrio nem os príncipes nem as princesas têm de desaparecer.

E sim, o desenvolvimento do mercado de arrendamento não deve desenvolver-se à custa dos amantes de torres.

Pedro disse...

(Este post parece-me um óptimo ponto de partida para uma bela troca de argumentos.)

Confessso que sempre abominei as histórias de princesas e de príncipes (especialmente dentro de torres em castelos). O final previsível, o facto de a princesa ser apenas "bela" (como se não houvesse mais nada a dizer de positivo sobre ela) e o cavaleiro "garboso" que demora uma eternidade a chegar sempre me afastaram dessas histórias cor-de-rosa. Quando ouço falar nisso, lembro-me sempre dos felizes agricultores que vivem ali ao lado da torre, em cuja casa há apenas um pequeno espelho partilhado entre todos (onde a enorme vaidade da princesa nunca caberia), e em que a esposa do agricultor se ri perante a pergunta: "Mas está a dizer-me que nunca usou cosméticos?"

mc disse...

Olá Pedro!

Segundo algumas opiniões as histórias do "Era uma vez ...e foram felizes para sempre" não são didácticas... percebo que não o sejam mas não deixo de gostar de contos de fadas.

Há sempre a versão da camponesa trabalhadora, amável, vestida com roupas modestas que por um acaso do destino encontra um sapo que não se transforma em principe, mas que se transforma no amor da sua vida. (versão adaptada à realidade)


Não acredito na felicidade eterna da bela princesa com o seu garboso principe do mesmo modo que não acredito que os camponeses, vassalos, responsáveis pelo fornecimento de legumes para os banquetes realizados semanalmente nesse reino possam ser descritos como felizes.

Agrada-me a ideia de felicidade eterna...nos contos de fadas!